Foi há 36 anos, há mais de muito, e contudo demasiado pouco, tempo que o povo português conseguiu quebrar as algemas que lhe prendia o coração, rasgar a venda que lhe cegava o espírito, romper o véu que lhe toldava o pensamento, soltar o grito que há tanto guardava no seu peito, gritar bem alto a palavra proibida: LIBERDADE!
Anos e anos de luta permitiram chegar ao objectivo, a esta luta que além de expoente máximo da luta antifascista, representou a efectiva derrota deste regime opressor, a queda da ditadura. Assim, esta Revolução foi a tomada de forma da liberdade e da tolerância, o êxito da luta que muitos travaram, pela qual deram a vida, pela qual perderam a própria liberdade que ansiavam conquistar, remando contra a opressão e contra a repressão. Assim, se, hoje em dia, podemos levar a vida que levamos, por muito que nos esqueçamos de quão importante é a liberdade que tomamos como garantida e banal, a todos estes lutadores se deve, a todos estes homens que lutaram, a todas as mulheres que sofreram, a todas as crianças que choravam, por todos eles, que merecem ser lembrados, por esta data que não deverá nunca ser esquecida: “25 de Abril, Sempre!”.
O texto que se segue foi retirado do site http://www1.ci.uc.pt/cd25a/:
Cronologia 1974
Acontecimentos que conduziram à Revolução:
- 22 de Fevereiro
Publicação do livro Portugal e o Futuro do General António de Spínola, em que este defende que a solução para a guerra colonial deverá ser política e não militar.
- 5 de Março
Nova reunião da Comissão Coordenadora do MFA. É lido e decidido pôr a circular no seio do Movimento dos Capitães o primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial: intitulava-se “Os Militares, as Forças Armadas e a Nação” e foi elaborado por Melo Antunes
- 14 de Março
O Governo demite os Generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas. Essa cerimónia de solidariedade será ironicamente baptizada nos meios ligados à oposição ao regime como “Brigada do Reumático” nome pelo qual ainda hoje é muitas vezes referenciada. A demissão dos dois generais virá a ser determinante na aceleração das operações militares contra o regime.
- 16 de Março
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares.
- 24 de Março
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar.
- 23 de Abril
Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.
A REVOLUÇÃO
- 24 de Abril
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença .
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- 22:00 horas
- Otelo Saraiva de Carvalho e outros cinco oficiais ligados ao MFA já estão no Regimento de Engenharia 1 na Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de Comando do Movimento. Será ele a comandar as operações militares contra o regime.
- 22:55 horas
- A transmissão da canção ” E depois do Adeus “, interpretada por Paulo de Carvalho, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, marca o ínicio das operações militares contra o regime.
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- 00:20 horas
- A transmissão da canção ” Grândola Vila Morena “ de José Afonso, no programa Limite da Rádio Renancença, é a senha escolhida pelo MFA, como sinal confirmativo de que as operações militares estão em marcha e são irreversíveis.
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- Das 00:30 às 16:00 horas
- Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais ( RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi).
- Primeiro Comunicado do MFA difundido pelo Rádio Clube Português
- Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém estacionam no Terreiro do Paço.
- As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.
- Desde a primeira hora o povo vem para a rua para expressar a sua alegria.
- Início do cerco ao Quartel do Carmo, chefiado por Salgueiro Maia, entre milhares de pessoas que apoiavam os militares revoltosos. Dentro do Quartel estão refugiados Marcelo Caetano e mais dois ministros do seu Gabinete.
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- 16:30 horas
- Expirado o prazo inicial para a rendição anunciado por megafone pelo Capitão Salgueiro Maia, e após algumas diligências feitas por mediadores civis, Marcelo Caetano faz saber que está disposto a render-se e pede a comparência no Quartel do Carmo de um oficial do MFA de patente não inferior a coronel.
- 17:45 horas
- Spínola, mandatado pelo MFA entra no Quartel do Carmo para negociar a rendição do Governo.
- O Quartel do Carmo rende-se.
- 19:30 horas
- Rendição de Marcelo Caetano.
- 20:00 horas
- Disparos de elementos da PIDE/DGS sobre manifestantes que começavam a afluir à sede daquela polícia na Rua António Maria Cardoso, fazem quatro mortos e 45 feridos.
PÓS-REVOLUÇÃO: Do 25 de Abril ao 1º de Maio
- 26 de Abril
- A PIDE/DGS rende-se .
- Apresentação da Junta de Salvação Nacional ao país, perante as câmaras da RTP.
- Por ordem do MFA, Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista e outros elementos afectos ao antigo regime, são enviados para a Madeira.
- O General Spínola é designado Presidente da República.
- Libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche.
- 27 de Abril
Apresentação do Programa do Movimento das Forças Armadas.
- 29 a 30 de Abril
Regresso dos líderes do Partido Socialista (Mário Soares) e do Partido Comunista Português (Álvaro Cunhal).
1 de Maio
Manifestação do 1º de Maio, em Lisboa, congrega cerca de 500.000 pessoas. Outras grandes manifestações decorreram nas principais cidades do país.
Foram todos estes acontecimentos e muitos mais, quer anterior quer posteriormente, que consolidaram Portugal como um Estado de direito, um Estado democrático, uma Nação livre. Esta Revolução é uma grande lição para todos nós, uma lição de honra, bravura e persistência, quer dos que dela directamente tomaram parte, quer de todos os que o permitiram, como as esposas que, em casa, sofriam, desconhecendo o paradeiro dos maridos que tanto amavam. Se tudo isto já sabíamos, reforçámos a sua veracidade através da palestra da passada 6ªfeira. Sobre ela, digo agora somente que correu muitíssimo bem, mais direi aquando da publicação dos gráficos avaliativos da mesma por parte dos que, a ela, assistiram.