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Archive for Maio, 2010

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Retirado do site www.guerracolonial.org

2 x 365 dias – viver durante dois anos

A ida para África, África e seus mistérios, África e a guerra, provocavam, de forma geral, nos jovens na iminência de serem mobilizados, reacções de receio, mas também de curiosidade, Nos anos de 1960, os portugueses tinham de África e da guerra um conhecimento povoado de mitos e fantasias construídos sobre a vida na selva e o contacto com populações estranhas. Em época de informação controlada pela censura e propaganda, e condicionada pela relativa pobreza dos métodos e processos de a difundir, transformar rapidamente jovens europeus, camponeses e citadinos, em soldados capazes de viver e combater nos teatros africanos exigia o recurso a todos os meios, incluindo a arte e o humor.
As Forças Armadas, especialmente o Exército, por ser o ramo que movimentava maior número de efectivos, deitaram mão a esses recursos como complemento da preparação dos seus soldados para a realidade que iriam encontrar e a melhor forma de enfrentar situações em que poderiam ver-se envolvidos. Aproveitando a arte e o engenho de alguns militares, de que se destacam o oficial de Cavalaria Vicente da Silva e José Rui, entre outros que mais tarde obtiveram sucesso como desenhadores de cartoons, o Jornal do Exército publicou, nos primeiros anos da guerra, uma série de «Conselhos aos Soldados no Ultramar», que, embora enquadrados nas actividades de acção psicológica, revelavam apurado sentido de humor e de crítica. Também as páginas humorísticas relativas às missões dos corpos de tropas e às situações vividas nas várias fases da comissão contribuíam para integrar os jovens militares nas realidades que viviam ou iriam viver.
O dia-a-dia dos militares nos quartéis do mato passava-se entre as tarefas de segurança, as operações e a rotina dos longos dias. Excepto nas guarnições sujeitas a grande pressão dos guerrilheiros, os dias cumpriam-se no contacto com as populações, nas permanências no bar, na correspondência com a família, na prática de algum desporto e, por vezes, na caça.
A ideia prevalecente na maioria dos militares era a de que a comissão durava duas vezes 365 dias. A partir da data do embarque, iniciava-se a contagem decrescente até ao regresso. A partir do local onde se encontrava, media-se a distância a que se estava de casa.
Os quartéis portugueses em África reproduziam a cultura de origem dos seus ocupantes, sendo vulgar organizarem-se pequenas explorações agrícolas, onde se cultivavam produtos metropolitanos que melhoravam a dieta alimentar.
As relações com as populações locais eram, regra geral, fáceis e traduziam-se na troca de serviços, dos domésticos aos sexuais, por algum tipo de remuneração, alimentos e tratamentos sanitários.
O correio constituiu caso especial na permanência dos militares em África. A correspondência com a família, as namoradas e os amigos consumia grande parte do tempo disponível dos mobilizados e aliviava tensões que seriam dificilmente suportadas sem esse escape. O Serviço Postal Militar (SPM) organizado pelas Forças Armadas atingiu elevados padrões de eficácia, existindo a noção em todos os escalões de comando de que receber a correspondência regularmente era essencial para manter o moral das tropas. O momento da chegada do correio e a sua distribuição provocava excitação compreensível. Por isso, todos os meios foram utilizados para fazer chegar o saco de lona do SPM às guarnições mais isoladas.”

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