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Retirado do site www.guerracolonial.org

2 x 365 dias – viver durante dois anos

A ida para África, África e seus mistérios, África e a guerra, provocavam, de forma geral, nos jovens na iminência de serem mobilizados, reacções de receio, mas também de curiosidade, Nos anos de 1960, os portugueses tinham de África e da guerra um conhecimento povoado de mitos e fantasias construídos sobre a vida na selva e o contacto com populações estranhas. Em época de informação controlada pela censura e propaganda, e condicionada pela relativa pobreza dos métodos e processos de a difundir, transformar rapidamente jovens europeus, camponeses e citadinos, em soldados capazes de viver e combater nos teatros africanos exigia o recurso a todos os meios, incluindo a arte e o humor.
As Forças Armadas, especialmente o Exército, por ser o ramo que movimentava maior número de efectivos, deitaram mão a esses recursos como complemento da preparação dos seus soldados para a realidade que iriam encontrar e a melhor forma de enfrentar situações em que poderiam ver-se envolvidos. Aproveitando a arte e o engenho de alguns militares, de que se destacam o oficial de Cavalaria Vicente da Silva e José Rui, entre outros que mais tarde obtiveram sucesso como desenhadores de cartoons, o Jornal do Exército publicou, nos primeiros anos da guerra, uma série de «Conselhos aos Soldados no Ultramar», que, embora enquadrados nas actividades de acção psicológica, revelavam apurado sentido de humor e de crítica. Também as páginas humorísticas relativas às missões dos corpos de tropas e às situações vividas nas várias fases da comissão contribuíam para integrar os jovens militares nas realidades que viviam ou iriam viver.
O dia-a-dia dos militares nos quartéis do mato passava-se entre as tarefas de segurança, as operações e a rotina dos longos dias. Excepto nas guarnições sujeitas a grande pressão dos guerrilheiros, os dias cumpriam-se no contacto com as populações, nas permanências no bar, na correspondência com a família, na prática de algum desporto e, por vezes, na caça.
A ideia prevalecente na maioria dos militares era a de que a comissão durava duas vezes 365 dias. A partir da data do embarque, iniciava-se a contagem decrescente até ao regresso. A partir do local onde se encontrava, media-se a distância a que se estava de casa.
Os quartéis portugueses em África reproduziam a cultura de origem dos seus ocupantes, sendo vulgar organizarem-se pequenas explorações agrícolas, onde se cultivavam produtos metropolitanos que melhoravam a dieta alimentar.
As relações com as populações locais eram, regra geral, fáceis e traduziam-se na troca de serviços, dos domésticos aos sexuais, por algum tipo de remuneração, alimentos e tratamentos sanitários.
O correio constituiu caso especial na permanência dos militares em África. A correspondência com a família, as namoradas e os amigos consumia grande parte do tempo disponível dos mobilizados e aliviava tensões que seriam dificilmente suportadas sem esse escape. O Serviço Postal Militar (SPM) organizado pelas Forças Armadas atingiu elevados padrões de eficácia, existindo a noção em todos os escalões de comando de que receber a correspondência regularmente era essencial para manter o moral das tropas. O momento da chegada do correio e a sua distribuição provocava excitação compreensível. Por isso, todos os meios foram utilizados para fazer chegar o saco de lona do SPM às guarnições mais isoladas.”

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O regime salazarista cedo entendeu que, a par da censura à imprensa, dos espectáculos e da polícia política, necessitava também de inculcar a sua doutrina nos mais jovens, sendo a veiculação da ideologia do Estado Novo na escola fundamental para a sua consolidação. Assim, além do apertado controlo sobre os professores, que, anualmente, tinham de fazer uma declaração de apoio ao regime e repúdio ao ‘activo do comunismo e de outras ideologias subversivas’, das inspecções às escolas, do controlo dos conteúdos programáticos e da aprovação dos livros de estudo “únicos” pelo Ministério da Educação, foi ainda criada a Mocidade Portuguesa.

A Mocidade Portuguesa era uma organização juvenil ao serviço do Estado Novo que procurava desenvolver o culto do chefe e o espírito militar , isto é, pretendia “estimular o desenvolvimento integral da juventude, a formação do carácter e a devoção à Pátria”. A ela pertenciam, obrigatoriamente, os jovens dos sete aos catorze anos. Criada a 19 de Maio de 1936, a Mocidade Portuguesa considerava como actividade fundamental o desporto, graças à disciplina que a sua prática implica.

Dividia-se em 4 escalões etários:

  • os lusitos (dos 7 aos 10 anos)
  • os infantes (dos 10 aos 14 anos)
  • os vanguardistas (dos 14 aos 17 anos)
  • os cadetes (dos 17 aos 25 anos).


Em Dezembro de 1937 formou-se a Mocidade Portuguesa feminina, cujos objectivos, de acordo com a ideologia do Estado Novo, eram formar uma nova mulher, boa católica, futura mãe e esposa obediente.

E o que se fazia na Mocidade Portuguesa?

Primeiramente, havia uma preparação paramilitar para os rapazes, envolvendo uma espécie de primeira recruta. Como já disse, o desporto era actividade fundamental, assim a partir dos 17 anos havia uma forte preparação física, com ginástica e desportos variados. De facto, todos os anos, no 1 de Dezembro e no 10 de Junho eram realizadas grandes paradas acompanhadas de grandes festivais de ginástica. Havia também outras actividades extra-curriculares de pendor nacionalista, inculcando nos jovens a ideologia do Estado, assumindo muitas vezes a forma de actividades culturais e recreativas. As raparigas, por exemplo, tinham aulas de enfermagem, oratória e culinária enquanto aos rapazes competia defender a Pátria e a honra da família.

Tentava, ainda, inculcar-se nos jovens a ideia de que nós, portugueses, éramos o povo escolhido, os melhores do mundo, os únicos que exerciam uma colonização desinteressada e afastada de quaisquer objectivos económicos, tentava ainda inculcar-se o sentido do dever e da obediência aos chefes. Todos estes ideais eram celebrados em inúmeros cânticos, com letras de culto aos heróis, aos chefes, ao sacrifício e à obediência.

Como já referi, a inscrição na Mocidade Portuguesa era obrigatória, tal como a aquisição da farda, de aspecto militar, castanha e verde, com as insígnias da organização. A fivela do cinto ostentava um “S”, que, se oficialmente significava “Servir no Sacrifício”, era, por todos, interpretado como “Servir Salazar”.


A Mocidade Portuguesa desenvolvia ainda acções sociais e de caridade.

Se na época de Salazar a Mocidade Portuguesa era uma associação de relevo, a partir de 1966, com Marcelo Caetano, a Mocidade Portuguesa começou a definhar, abandonando as práticas e treino paramilitares, ficando-se apenas pelas actividades de acção social escolar e de ocupação dos tempos livres.

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PIDE: Ex-inspector

Encontrei, neste blogue http://historiaeciencia.weblog.com.pt/ uma entrevista com um ex-inspector da PIDE  bastante “caricata”. De facto, quase que beatifica esta tenebrosa polícia, retirando-lhe todos os defeitos, pintando-a de qualidades, esquecendo todos os que, nas suas mãos, sofreram. Por tudo isto, gostaria que lessem a entrevista e deixassem a vossa opinião acerca da PIDE/DGS.

ENTREVISTA COM ÓSCAR CARDOSO

Bruno Oliveira Santos: A PIDE tinha- entre corpo directivo, agentes, pessoal administrativo e auxiliar- cerca de 2.500 efectivos. Isto não era uma enormidade para um país como Portugal?

Óscar Cardoso: Com os agentes do Ultramar, talvez fossem quase 3.000 efectivos. E este número não é nenhuma enormidade. Não se esqueça que Portugal ia do Minho a Timor. Estando hoje Portugal reduzido às fronteiras do tempo de D. Afonso III, sabe quantos homens tem a GNR? Cerca de 30.000. E sabe quantos tem a PSP? Mais de 20.000. Some-lhes ainda os da Polícia Judiciária, que não sei quantos são.

B.O.S: Como é que se processava a entrada na PIDE?

O.C: O exército, nas suas ordens de serviço, publicava convites, dirigidos sobretudo a oficiais milicianos, que no caso de estarem interessados em ingressar no quadro da PIDE deveria submeter-se depois a concurso. Isto no caso de candidatos provenientes do exército, porque ingressaram na PIDE vários ex-agentes da Polícia Judiciária e da GNR, como é o meu caso.

B.O.S: No caso de virem do exército, era preciso a abonação de um oficial.

O.C: Pois era. Exigia-se, de facto, a abonação de um oficial, até porque o candidato necessitava de ter uma folha militar limpa.

B.O.S: É verdade que vários oficiais que se destacaram depois do 25 de Abril, como Vasco Gonçalves, abonaram a entrada de diversos agentes?

O.C: Eu nunca vi nenhuma abonação assinada pelo Vasco Gonçalves, mas conheci na prisão um agente, o Augusto Queirós, de Portalegre, que me disse que tinha sido abonado precisamente pelo Vasco Gonçalves.
O Costa Gomes, esse então, deve ter abonado muitos. Principalmente candidatos provenientes de Angola, no tempo em que ele era comandante-chefe.

B.O.S: Os informadores tinham um peso significativo na resolução dos problemas?

O.C: Há que distinguir dois tipos de informadores: aqueles que fornecem informações por entenderem que o devem fazer, sem terem sido solicitados para tal e sem exigirem qualquer pagamento, e aqueles que, como em qualquer Estado e em qualquer polícia, fornecem informações para ganhar umas coroas, ainda que sejam indivíduos bem formados. Porque também há informadores angariados na ralé, como são quase todos aqueles que colaboram hoje com a Polícia Judiciária: a gatunagem, os traficantes de droga, que se denunciam una aos outros.
Nenhum Estado sobrevive sem informação. Ora, sem informadores não há informação. Por isso, como qualquer polícia, a PIDE também tinha informadores, inclusivamente no Partido Comunista. Agora, se me pergunta qual o peso que esses informadores tinham dir-lhe-ei que eles eram catalogados de acordo com a qualidade das informações. Havia indivíduos cujas informações batiam sempre ou quase sempre certo e outros cujas informações não tinham qualquer veracidade.

B.O.S: É verdade que os ficheiros da PIDE- os chamados Dossiers Individuais de Controlo- tinham informações sobre mais de um milhão de portugueses?

O.C: Não faço a mínima ideia. Quando entrei para a PIDE fiz um estágio em todos os departamentos e passei também pelos serviços reservados, mas nunca me forneceram qualquer indicação sobre o número de ficheiros existentes.

B.O.S: Esses ficheiros podiam ser consultados livremente por qualquer agente?

O.C: De maneira nenhuma. Estavam reservados à consulta pelos inspectores que estavam nessa divisão. A prática era esta: se um inspector de outra divisão pretendia consultar um ficheiro, tinha de preencher um documento de requisição para o efeito, que era depois arquivado.

B.O.S: Todos esses ficheiros desapareceram…

O.C: Os ficheiros desapareceram porque a sua revelação punha a descoberto os crimes e os vícios de muitos impolutos lutadores antifascistas, alguns deles bufos da PIDE. Os ficheiros importantes foram, como sabe, para a União Soviética. Os que vieram para a Torre do Tombo são refugo.
Desapareceu o processo secreto do navio Angoche, em cujo afundamento estava implicado o PCP; desapareceu o processo do dr. Álvaro Cunhal; desapareceu o processo que comprometia o bando de Argel na morte do general Humberto Delgado; desapareceu o processo de Júlio Fogaça, militante do PCP, preso com o namorado, que era um soldado de Cavalaria 7; desapareceu o processo que demonstrava que a famosa fuga de Peniche fora preparada pela PIDE; desapareceu o processo do Jean Jacques Valente, que estava preso por homicídio, e que depois do 25 de Abril foi credenciado para interrogar os funcionários da PIDE, em Caxias…
Por outro lado, apareceram muitos ficheiros- fabricados e introduzidos nos arquivos depois do 25 de Abril- para dar um estatuto de mártir e de torturado a muito menino que nunca pôs os pés na António Maria Cardoso! Sabe que esses mártires têm hoje direito a benefícios fiscais e pensões do Estado? Talvez isto ajude a explicar a inflação de torturados…

B.O.S: Quer dizer que a tortura não era uma prática institucionalizada na PIDE?

O.C: É claro que não. Um dia vi na televisão uma velhota a mostrar as cicatrizes causadas por queimaduras de cigarro que lhe haviam sido feitas pelos torcinários da PIDE. Uns dias depois, a mesma velhota dizia nos jornais que recebera 40 contos do Partido Comunista para mostrar as queimaduras, que afinal foram provocadas por azeite a ferver num acidente doméstico. É que com estas mentiras que se fas a história! Olhe, eu servi na GNR e na PIDE. Onde eu vi grandes sovas foi na GNR. A PIDE era uma polícia semelhante à de muitos outros países democráticos. A França tinha o SDECE e o DST, a Inglaterra tinha o II5 e o DI6, os Estados Unidos da América tinham e têm a CIA e o FBI. Todas estas polícias faziam ou fazem ainda investigação, informação, espionagem e contra-espionagem. Afinal, éramos diferentes em quê? Fazíamos escutas telefónicas? Fazem-nas hoje todos os serviços de informação dos países democráticos. E Portugal não é excepção!
Com estas atordoadas de tortura e de escutas telefónicas que se lançam para o ar ninguém repara que hoje mesmo se está a formar uma nova polícia à escala mundial que, utilizando meios informáticos poderosos e altas tecnologias, controla facilmente a própria vida privada de cada um de nós. Mas como tudo é feito em nome da democracia, ninguém parece estar muito preocupado…
Os horrores da PIDE continuam a ser propagados para justificar a revolução e esconder as misérias destes últimos 25 anos. Não fomos nada do que dizem. Fomos, sim, uma das três melhores polícias do mundo. Prestámos relevantes serviços ao país.

B.O.S: A PIDE perseguiu os emigrantes?

O.C: Não. Perseguiu apenas os chamados engajadores, indivíduos sem escrúpulos que exploravam os que pretendiam emigrar e os sujeitavam a condições desumanas. Em relação aos emigrantes, nunca tomámos qualquer medida persecutória. Foram à nossa sede várias mulheres e mães de emigrantes pedir ajuda para visitar os seus maridos e filhos no estrangeiro. Recorriam a nós porque sabiam que, para além de assegurarmos o serviço de fronteiras, tínhamos competência para emitir passaportes.
Lembro-me de um caso que vale a pena contar. Apareceu um belo dia na PIDE uma senhora idosa com um semblante pesaroso. O marido, que estava em França, sofrera um acidente e estava internado no hospital. A senhora queria ir vê-lo, mas não tinha dinheiro suficiente para os gastos. Os nossos serviços emitiram-lhe um passaporte especial, arranjaram-lhe um farnel, acompanharam-na a Santa Apolónila e compraram-lhe o bilhete. Não foi caso único.

B.O.S: São constantemente referidos os casos de Dias Coelho e de Ricardo dos Santos para demonstrar a mão pesada da PIDE.

O.C: Em nenhum dos casos houve a intenção de matar. O Dias Coelho era militante do PCP. Dois agentes da polícia foram incumbidos de o prender. Contudo, a operação correu mal porque, avistado o Dias Coelho, um dos agentes não esperou pela colaboração do colega e decidiu actuar sozinho.
Apercebendo-se da situação, o Dias Coelho agrediu esse agente, que caiu no chão. Entretanto, chega o colega e agarra o agressor. Nesse momento, o agente caído- certamente com os sentidos afectados pela queda- saca da pistola e dispara atingindo mortalmente o Dias Coelho. Só por acaso a vítima não foi o outro agente, o Manuel Lavado, que ficou ferido no braço.
O caso de Ribeiro dos Santos não é muito importante. Recebeu na PIDE um telefonema da secretaria do Instituto Superior de Economia (actual Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras) informando que os estudantes haviam detido naquela escola um agente da nossa polícia. Quem atendeu o telefonema esclareceu o funcionário da escola que não havia tratar-se de um agente da PIDE porque não introduzíamos agentes nas escolas. De qualquer modo, foram enviados dois homens ao local para averiguar o sucedido. Os estudantes tinham efectivamente raptado um indivíduo, que estava no auditório com as mãos atadas a um saco na cabeça. Os nossos agentes tentaram libertá-lo, tendo sido violentamente agredidos pelos estudantes. Um dos agentes, que já estava ferido, sacou da pistola e deu uns tiros para o ar, com o propósito de dispersar os agressores. Uma bala atingiu, por ricochete, o Ribeiro dos Santos.
Apurou-se depois que o Ribeiro dos Santos não estudava naquele Instituto. Parece que era aluno de Direito. Creio que estava ali como provocador. O indivíduo que os estudantes raptaram era um agente da PSP.

B.O.S: É curioso verificar que, enquanto se fala muito no caso Ribeiro dos Santos, não se diz uma única palavra sobre a morte de um outro militante do MRPP, Alexandrino de Sousa, assassinado depois do 25 de Abril por elementos da extrema-esquerda quando andava a colar cartazes em Lisboa.

O.C: Pois não. Depois do 25 de Abril já não havia a PIDE para carregar a culpa. Mas deixe-me dizer-lhe que, no caso Ribeiro dos Santos, as investigações foram conduzidas pela Polícia Judiciária, que enviou o processo para o Tribunal, tendo sido provada a legítima defesa do autor dos disparos.

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Pausa

Quero pedir desculpa pela demora nas actualizações, gostaria de poder fazê-lo mais frequentemente mas, não estando em casa, torna-se impossível. A partir de sábado retomarei o ritmo.

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Pedido de Colaboração

Ilustres Desconhecidos (ou talvez não) gostaríamos de pedir a todos aqueles (ou aquelas) que alguma história têm para partilhar acerca da época do Estado Novo, ou caso conheçam alguém que se encontre nas mesmas condições (tios, pais, avós, vizinhos) que nos contactem, pois seria um prazer ouvi-los e inclui-los neste nosso projecto.

Os contactos devem ser dirigidos ao endereço de e-mail lutaesquecida@hotmail.com e neles deve constar:

Assunto.

Nome.

Idade.

Contacto.

Informações adicionais.

Os nossos afectuosos agradecimentos e cumprimentos.

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