Clara Barata e Luís Miguel Queirós são autores de um trabalho apresentado no suplemento Leituras do jornal «Público» de 11 de Junho de 1994. Chama-se Livrarias no Regime Fascista e nele alguns intervenientes recordam as suas experiências desse tempo:
Reunia-se aqui muita gente contada com a oposição à ditadura – explica Fernando Fernandes, que acompanhou todo o percurso da Livraria Divulgação e passou a sócio-gerente da Livraria Leitura. Antepassada da actual Leitura, a Divulgação foi, no Porto, ao longo da década de 60, a mais importante livraria da oposição.
Conforme palavras dos autores do texto do «Público»: à sorrelfa, arranjavam-se os livros dos quais o regime não queria que se ouvisse sequer falar. Escondiam-se em vãos de estantes, paredes falsas, ou até em baldes de tinta, e só se vendiam a clientes de confiança – “por debaixo do balcão”, embrulhados em papel pardo.
A norte do Porto, raras eram, também, as cidades que não possuíssem uma ou outra livraria conotada com a oposição ao regime. A do historiador Victor Sá, em Braga – a Livraria Victor, na Rua dos Capelistas, cuja antiga sede foi sacrificada a interesses imobiliários – terá sido, porventura, a que atingiu maior notoriedade.
As pessoas sabiam que ao importar, distribuir ou editar determinadas coisas, se sujeitavam às consequências, conta José Ribeiro, da livraria, editora e distribuidora Ulmeiro, na Avenida do Uruguai, em Lisboa.
Por vezes, levavam-me preso, para a António Maria Cardoso, para prestar declarações. Faziam interrogatórios de intimidação, acusavam-me de ser um comunista disfarçado de comerciante, recorda José Ribeiro. A única hipótese era fazer como Manuel Ferreira da Costa, da Livraria Sá da Costa, de Lisboa: Eles faziam perguntas parvas e a gente respondia parvamente.
Habituávamo-nos a trabalhar em dois níveis. Interiorizávamos os códigos de vivência impostos, sabíamos o que podíamos escrever, editar ou vender. Jogávamos um jogo, reflecte Alferes Gonçalves, da Livraria Finisterra, em Coimbra. Era uma espécie de jogo do polícia e ladrão, acrescenta José Ribeiro.
Os livros proibidos eram verdadeiros “best-sellers”, tanto pelo que eram, como por serem proibidos. Muitas vezes nem eram nada de especial. Mas a proibição aguçava o apetite, afirma José Reis, gerente da Livraria Portugal, na Rua do Carmo. Quem fez grande fama dos livros proibidos da Ulmeiro foi a PIDE, comenta José Ribeiro.
O leitor interessado sabia onde encontrar o livro proibido. Em Lisboa, nas livrarias do Centro do Livro Brasileiro ou da Europa-América, na Moraes, ou na Ulmeiro. Na velha Barata, com o malogrado António Barata, ou o Afonso que por lá continua. Na Boa Leitura, junto ao Areeiro, onde um dos irmãos Branco tinha sempre o que era preciso. Ou na cooperativa do Clube Expresso, frente ao Hospital dos Capuchos, onde o Lourenço atendia os mais subversivos pedidos de títulos caídos em desgraça.
As cooperativas livreiras foi uma outra realidade no mundo dos livros proibidos. Éramos todos muito jovens, tínhamos 18 ou 20 anos. Foi a nossa grande escola política, diz Irene Rodrigues, que trabalhou, desde 1966, na Livrelco e está hoje na Livraria Buchholz, na Rua Duque de Palmela, em Lisboa.
A leitura sobre aqueles grandes portugueses,que, nas suas livrarias, ajudaram a nascer a Democracia,fez-me lembrar aqueles que,no Jornal do Fundao e na Seara Nova ,tambem lutaram pela Democracia.E’ preciso que nao caia no esquecimento a sua dadiva a causa da Liberdade.Curvemo-nos perante o seu exemplo.
Alegro-me em saber que o nosso, ainda jovem, blogue possa interessar-lhe e mais ainda ao aperceber-me de que, de facto, os textos nele postados possam conseguir o pretendido: Recordar, Reviver, Lembrar. Isto é, Não Esquecer que íngreme trilho teve de ser traçado para que esta nossa geração pudesse nascer e crescer em Liberdade, algo que tão frequentemente tomamos por garantido, não nos lembrando de todos os que, por ela, lutaram.
Espero que continue a acompanhar o nosso blogue e a deixar a sua marca.